sábado, 17 de março de 2018

JOÃO MARCOS - UM HOMEM QUE VENCEU NA SEGUNDA CHANCE QUE TEVE



Na primeira vez em que nos deparamos com João Marcos, mal podemos acreditar naquilo que vemos. Em meio a agonia de Cristo no jardim do Getsêmani, surge um jovem, vestindo apenas um lençol de linho. Quando o bando que prende Jesus tenta agarrar o jovem, o lençol se rasga fazendo com que ele fique completamente nu (Mc 14.51-52).

Será que essa era uma tentativa de Marcos dizer, em seu relato do evangelho, que ele estava lá, onde as coisas aconteceram? Parece que sim. Sob qualquer tipo de análise, a ideia que se tem é a de que Marcos era filho de uma família próspera e privilegiada. Sua Mãe, Maria, tinha uma casa com dois portões e uma serva (At 12.12-13), grande o suficiente para abrigar uma congregação de cristãos do século 1. João Marcos pode ter sido um rapaz um pouco mimado, assim como indisciplinado.

Mesmo assim, Barnabé, primo de Marcos, acreditava no rapaz o suficiente para convida-lo para que o acompanhasse na primeira viagem missionária da igreja. João Marcos tornou-se um aprendiz de apóstolo (At 13.15). No entanto, depois que Saulo e Barnabé chegaram a Perge (na atual Turquia), Marcos voltou a Jerusalém(At 13.13). Não sabemos o motivo; contudo, sabemos que Saulo considerou aquela atitude como uma deserção. Cerca de cinco anos mais tarde, quando Paulo e Barnabé estavam planejando a segunda viagem missionária, Paulo se opôs com firmeza à ideia de levar Marcos com eles novamente. Com isso, o grupo se separou.

Barnabé e João Marcos seguiram por um caminho, enquanto Paulo e Silas pegaram outra direção (At 15.39-40). O conflito não foi muito bom, mas gerou um efeito importante: eles acabaram cobrindo o dobro do território em nome de Cristo.

Apesar daquele primeiro fiasco, Marcos não podia ser considerado um fracasso total. Doze anos depois, Paulo pediu a Lucas que fosse ao encontro dele acompanhado de João Marcos "porque ele me é útil para o ministério" (2Tm 4.11). Mais tarde, ele pediu aos colossenses que recebessem Marco muito bem porque ele havia sido "fonte de ânimo" (Cl 4.10-11)

O desertor voltou. E mais do que isso: muitos estudiosos acreditam que ele foi além, escrevendo o evangelho que leva seu nome. Com certeza, o Evangelho de Marcos tem uma qualidade impressionante que combina com o estilo do jovem que fugiu nu do jardim. E o mesmo jovem que abandonou o trabalho missionário na primeira vez descobriu, com o tempo, sua própria maneira de falar do evangelho.